A Lava Jato de cada um - Geopolítica da Intervenção

 

É visível que existem várias imagens do que é a Operação Lava Jato no imaginário brasileiro. Talvez por sermos contemporâneos, sem distanciamento para analisar suas minúcias, ou porque é um jogo de xadrez intrincado, com diversos atores políticos, ou ainda porque nos últimos tempos ficamos mais passionais em defender lados, como se fôssemos os autores, e não expectadores de tudo o que está acontecendo no cenário político desde que começou a operação, em 2014. Pois eis que surge uma versão de tudo isso, sob um olhar jurídico e histórico: Geopolítica da Intervenção - A verdadeira História da Lava Jato, de Fernando Augusto Fernandes (Geração Editorial, 464 páginas).

Ainda que o autor, advogado e cientista político, francamente torça por um dos lados do tabuleiro - ele foi o autor do pedido de habeas corpus que tirou o ex-presidente Lula da prisão, em 2018 - Fernandes recorre a muitos documentos, matérias jornalísticas, vídeos disponíveis na internet e à memória de quem não foi mero expectador, como nós, para provar sua versão da história. No caso, que a Lava Jato, mesmo que apregoe isenção e 100% de interesse em acabar com a corrupção, na verdade focou na desestabilização do governo petista, no enfraquecimento de programas importantes para a soberania, como o de petróloeo e gás, e que tenha se empenhado para abrir as portas para um governo liberal de direita. Na verdade, acabou abrindo com força demais...

O livro é bem embasado, e começa explicando o título, levando os leitores ao golpe de 1964 e à Doutrina de Segurança Nacional. A 'geopolítica da intervenção' refere-se à influência dos norte americanos nas Forças Armadas brasileiras, fato que há decadas são do conheciemnto geral. 

A menção não é à toa: Fernandes vai juntando os fatos que acompanhamos nos jornais com outros que demonstram o grande intereresse dos Estados Unidos nessa situação, com ações de espionagem e vigilância, além de contar com a camaradagem da grande estrela da Lava Jato, o então juiz Sérgio Moro, que com sua 'capa de invisibilidade' concedida pela voz do povo, foi ultrapassando barreiras jurídicas, éticas e morais. 

É uma pena que muitos vão deixar de ler por acharem que esse jogo de xadrez  na verdade é uma disputa de futebol, e não uma tentativa de entender nosso momento atual.